Tuesday 18 March 2008

"Geração em Saldo" - Visão - 28 Fev 2008

Desculpem o post ser enorme, mas achei super importante colocar aqui o artigo publicado pela Visão. Espero os vossos comentários!!!

"Geração em saldo
Têm as melhores qualificações de sempre mas não arranjam emprego ou esbarram na precariedade. Retrato de uma geração adiada num DOSSIÊ MULTIMÉDIA, que inclui VÍDEO do MAKING-OFF da produção fotográfica realizada para esta reportagem e uma GALERIA DE FOTOS - por Clara Teixeira e Joana Filol - 28 Fev 2008

Ó São Precário, protegei-nos a nós, precários da Terra, fazei com que nos paguem subsídio de maternidade, protegei as funcionárias dos centros comerciais, os anjos dos call center, concedei aos falsos trabalhadores independentes subsídio de férias e reforma, rendimentos para todos e serviços gratuitos, livrai-os dos despedimentos malignos.» A oração ao São Precário continua e poderia dar para rir não fosse tão sério o fenómeno que afecta milhares de pessoas em toda a Europa. São estes os novos pobres?

Jovens, licenciados, mestres e doutorados, solteiros, não têm filhos, vivem em casa dos pais, ou dividem a renda com um namorado ou um amigo. Na maior parte dos casos, a família ajuda-os a esticar o ordenado até ao fim do mês. Na Europa, chamam-lhes «geração dos mil euros»; em Portugal ganharão um pouco menos…

«Os nossos pais deram-nos mais do que tiveram, mas nós temos menos do que eles.» Clara Caldeira, 30 anos, licenciada e mestre em Comunicação, habituou-se a ter «a vida sempre adiada». «Se deixar de trabalhar, deixo de ganhar», afirma. Por isso, vive ao ritmo dos trabalhos temporários que vai arranjando, na área da escrita criativa e do guionismo. Da única vez que fez um contrato, pelo prazo de um ano, alugou casa no centro de Lisboa. No resto do tempo, a regra tem sido a do recibo verde a troco de mil euros mensais. Metade desaparece da conta bancária até ao dia 8 de cada mês, para pagar as despesas fixas de casa. Com a outra metade, vai ao cinema, janta fora duas ou três vezes por mês, bebe um copo à noite com os amigos, paga o táxi de regresso a casa, e vai fazendo uma gestão rigorosa da dívida à Segurança Social. No banco, mantém um fundo de maneio, guardado para uma fatalidade – leia-se, ficar sem trabalho – que lhe chega para viver dois meses sem ordenado. Agora, ganha um pouco mais do que os mil euros a que a sua geração parece predestinada, mas só durante seis meses. Em Maio, termina a colaboração com a produtora de Depois do Adeus, o novo programa de Maria Elisa, na RTP. Se a coisa não se compuser, a casa de família serve de recuo.

Rasca ou à rasca?
Como Clara, a CGTP contou no ano passado 863 mil trabalhadores com vínculos precários. O número só peca por defeito: não inclui estagiários nem falsos recibos verdes. Os resultados do Inquérito ao Emprego do INE, trabalhados pela agência Lusa, apontam para que, em 2007, 43 mil licenciados tenham desempenhado trabalhos de baixa qualificação ou não qualificados. E para 60 mil diplomados no desemprego. Nos centros de emprego, estão inscritos
40 mil – um número igual ao de novos licenciados que todos os anos saem das universidades. Não se pode, porém, ler nestes números que tirar um curso não compensa. São outras as razões para a geração que Vicente Jorge Silva baptizou de «rasca» estar hoje «à rasca».

Catarina Matias, 31 anos, licenciou-se em História, fez uma pós-graduação em museologia e, desde então, não parou de somar trunfos: estagiou no Victoria & Albert Museum, em Londres; venceu um concurso internacional e foi para o Qatar trabalhar no Museu de Arte Islâmica («o único contrato verdadeiro que tive até hoje»); regressou a Portugal, não arranjou emprego e partiu para o Museu do Louvre, em Paris, onde se autopropôs como estagiária. Pelo meio, deu aulas, estagiou no Museu Machado de Castro, colaborou com o IPPAR, em Coimbra. Desde Novembro, está desempregada, a viver do que amealhou nas Arábias: «Esticadinho chega para os próximos quatro ou cinco meses», prevê. Envia dezenas de cartas por mês: «Não me importava de não ter um emprego para a vida desde que me dêem a oportunidade de ter trabalhos», explica. Não falta quem abra a boca de espanto perante o currículo, mas, «na hora da verdade, ignoram».

Também Vera Assis Fernandes, 37 anos, tem um currículo irrepreensível. Licenciou-se em Geologia, tornou-se mestre em Geoquímica Lunar, nos Estados Unidos, e de seguida doutorou-se em Cronologia e Petrologia Lunar, em Inglaterra. Portugal «caçou» este cérebro em 2003, com uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Vera regressou, durante cinco anos, para fazer o pós-doutoramento no Instituto de Geofísica da Universidade de Coimbra. Missão: estudar dados obtidos remotamente pela missão Mars Express, patrocinada pela Agência Espacial Europeia – da qual Portugal faz parte. Em Coimbra, só encontrou «falta de vontade, falta de espírito de equipa, falta de interesse a nível nacional». Em finais de 2007, depois de muito batalhar, voltou a fazer as malas e partiu para Berkeley, na Califórnia – antes escreveu para o Público um manifesto: Portugal poderá estar a dizer ‘não’ a futuros Einsteins e foi, então, recebida em audiência no Ministério da Ciência, em Agosto de 2005.

Um curso compensa
Apesar da crueza dos relatos, o discurso oficial é positivo. O presidente do IEFP, Francisco Madelino, esclarece que «os jovens licenciados são os que mais rapidamente obtêm trabalho». Demoram oito meses, em média, enquanto os não licenciados levam entre 12 e 14 meses. «As remunerações médias de um licenciado são cerca de quatro vezes superiores às de um trabalhador que não tenha frequentado o ensino superior», adianta. Na apresentação do estudo sobre A procura de emprego dos diplomados, o ministro da Ciência e do Ensino Superior, Mariano Gago, frisou que, nos últimos quatro anos, o número de licenciados inscritos nos centros de emprego não se alterou, o que revela a capacidade do mercado de trabalho para absorver o aumento de 20% da população com curso superior. A taxa de desemprego, nesse escalão, atinge 7,5% – um valor próximo do total nacional. «Quando as pessoas aumentam a qualificação, não é imediatamente que a economia reage», continua Francisco Madelino.

«Estimular o crescimento da economia é essencial para criar mais e melhores postos de trabalho, e aproveitar melhor os recursos humanos», vaticina, à VISÃO, o comissário europeu do Emprego e Assuntos Sociais, Vladimir Spidla. No caso de Portugal, uma particularidade é salientada pelo responsável europeu: a maioria dos jovens atribui a falta de emprego à ausência de oportunidades; já na Finlândia a maior parte dos entrevistados pela Gallup considera que a escassez de experiência é a razão principal.

«Porque não me limitaram a entrada na universidade, se sabiam, à partida, que não havia trabalho para mim?» Volta e meia, a pergunta martela na cabeça de Cláudia Baptista, 29 anos, licenciada em Jornalismo, a trabalhar como técnica auxiliar de educação. Durante quase dois anos, foi estagiária numa rádio nacional. Começou por fazer um estágio curricular não remunerado, durante três meses, foi convidada a prolongá-lo por outros três. Aceitou. «Durante seis meses, paguei para estagiar», recorda. E depois? «Depois, ofereceram-me ficar a troco de 300 euros, a recibo verde.» Vivia em casa dos pais, o dinheiro dava para pagar transportes e alimentação. Durante os 13 meses de isenção da segurança social aguentou. O amor à profissão falou mais alto e os elogios constantes que recebia alimentavam a esperança de um contrato. «Trabalhava 15 a 16 horas por dia, editava peças, sonorizava. Tinha responsabilidades de um jornalista, mas, no papel, não deixava de ser estagiária», resume. Acabada a isenção, «dei ouvidos ao meu orgulho pessoal e profissional que se começava a construir». Pediu que lhe pagassem o salário mínimo e a Caixa. A resposta foi negativa. Cláudia saiu, outros estagiários continuaram. Todos os anos, chegam mais. À distância de seis anos, Cláudia não consegue criticar apenas a estação onde trabalhou: «Há uma concordância do Estado, instituições de educação, empregadores e sindicatos: todos sabem que esta rotatividade de estagiários existe, mas ninguém faz nada para mudar porque a situação interessa a muita gente.» Não se envergonha de dizer que ainda hoje tem apoio psicológico e deixa o aviso: «Já começámos a gerar uma geração de frustrados.»

Qualificados e desempregados
Nunca, como hoje, os jovens, em Portugal, tiveram tantas qualificações, e nunca, como hoje, sentiram tantas dificuldades para arranjar emprego. Como se chegou aqui? Como se sai desta situação? João César das Neves, economista e docente na Universidade Católica, comenta: «Há muitas universidades más, que formam alunos para o desemprego.» Privadas e públicas, nas grandes cidades e no Interior.

O economista salienta o desajustamento entre a formação dada em muitas universidades e aquilo que o mercado de trabalho procura. «Um curso de Direito é barato, é só papel e lápis, por isso todos os anos são formados milhares de alunos. Para quê?», pergunta. Mas, apesar deste desajustamento, concorda com o discurso governamental de que Portugal precisa de produzir muito mais diplomados. Qual é, então, a solução? «É difícil disciplinar as universidades, mas é preciso fazê-lo», sugere César das Neves.

O estudo sobre emprego dos diplomados, divulgado pelo gabinete do ministro Mariano Gago, pode ser visto pelas universidades como uma espécie de manual de instruções para a reforma dos cursos superiores. Sem grandes surpresas, aponta as áreas com maior número de desempregados, mas também o inverso, aquelas áreas que estão mais resguardadas do desemprego: Ciências da Vida (Biologia, Bioquímica, Ciências do Ambiente), Informática, Matemática e Estatística, Ciências Veterinárias, Serviços de Segurança (segurança no trabalho, Engenharia militar) e Serviços de Transporte (pilotagem, gestão de transportes).

António Dornelas, sociólogo do ISCTE que integrou a comissão do Livro Branco para as Relações Laborais, também indica o acesso à escolarização, incluindo à universidade, como a melhor saída para o problema: Num país de microempresas, predominam empregadores que, na maioria dos casos, têm, aos 50 anos, a escolaridade típica do Portugal de há três décadas: 4 ou 6 anos de escolaridade. Esta realidade – chamada de «conspiração grisalha» por Francisco Ribeiro Mendes, ex-secretário de Estado de António Guterres – é, para António Dornelas, uma «barreira natural à integração dos jovens». Quando, porém, se compara a estrutura empresarial dominante com as novas empresas, criadas recentemente, onde aumenta o número de mulheres empresárias, qualificadas, e mais jovens, «o outro País aparece…», garante António Dornelas. Mas enquanto o primeiro domina a paisagem, é necessário «evitar os erros do passado», mantendo os incentivos à escolarização, «recalibrando» a regulação dos mercados de trabalho e a protecção social, reduzindo a duração máxima dos contratos a termo (de 6 para 3 anos) e combatendo a fraude na contratação a recibos verdes. Estas são algumas das propostas que o Governo pondera assumir na próxima revisão das leis laborais.

Precários no trabalho e na vida
Tiago Gillot, dos Precários Inflexíveis (PI), nota que «a precariedade não se limita ao trabalho, já chegou à escola, à habitação, à saúde. É uma proposta de vida baseada na incerteza, no fim de uma sociedade equilibrada», adverte. Ele foi um dos responsáveis pela organização da primeira parada MayDay em Portugal, em 2007. O desfile de precários que se realiza no 1.º de Maio, em diferentes cidades europeias, regressa este ano a Lisboa. Com mais força. Na quinta--feira, 21, mais de 50 jovens sentados, de pernas cruzadas, sobre um longo tapete vermelho, reuniram-se na cooperativa cultural Crew Hassan. Com estilos que iam do alternativo ao fato e gravata, havia estudantes, estagiários, trabalhadores mais ou menos precários. Em nome individual ou de organizações que têm encabeçado esta luta. André Soares, 27 anos, do Fartos d’Estes Recibos Verdes (FERVE) aproveita para alertar que falar em casa ou no café não chega: «As pessoas têm de ir para a rua, só assim o fenómeno se torna visível.»

Muito provavelmente, também os Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual se associarão à parada, adianta Bruno Cabral, técnico de cinema. A lei que regulamenta a actividade, promulgada recentemente, não responde às expectativas: além de não incluir os técnicos, «não abrange uma segurança social adaptada à intermitência da actividade». O actor Jorge Loureiro diz que acumulou uma dívida de um ano à SS que não pensa pagar: «Porque não posso e porque é injusto, tenho um trabalho completamente inconstante», explica. «E se temos uma lesão e ficamos impedidos de trabalhar?», pergunta a actriz e cantora Ana Amorim, 27 anos.

Imaginação é coisa que não falta a quem recebe pouco, ou não recebe, no final do mês, a quem passa recibos verdes quando deveria assinar contrato, a quem se substitui ao patrão no pagamento da Caixa. Se os italianos inventaram o São Precário, lhe puseram uma auréola na cabeça e o vestiram com roupas de empregado de cadeia de fast food, os PI organizaram, no Carnaval, um dilúvio de papel, lançando do «céu» do Centro Comercial Colombo centenas de papelinhos com mensagens a «desmascarar a precariedade». Pela mesma altura, o FERVE entregou no Parlamento uma petição com cerca de 5 mil assinaturas, levando a luta contra os recibos verdes ao centro do debate político. Mais acções vêm a caminho.

A primeira etapa da precariedade
Catarina (nome fictício), 25 anos, é uma coleccionadora de estágios. Terminou o curso de Geografia, variante Planeamento e Gestão do Território, em 2005. Desde então fez três. O curso que tirou não previa a realização de estágio curricular, mas ela quis fazê-lo. «Era uma oportunidade de arranjar emprego e terminar o curso com experiência profissional.» Licenciou-se, mas continuou estagiária. Uma Câmara Municipal da Região Centro recebeu-a duas vezes: primeiro ao abrigo de um estágio profissional do IEFP, depois no âmbito do Programa de Estágios Profissionais na Administração Local (PEPAL). O tutor «pouco ou nada» a acompanhou, mas a experiência – «a fazer exactamente as mesmas funções de colegas que estavam a contrato ou recibo verde» – foi útil: «Aprendi por mim mesma.» O desânimo veio no final: «Fui avaliada com muito bom, eles precisam de pessoas, então porque não fiquei?», interroga-se.

Para o presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, com os estágios profissionais na Administração Pública e Local, o Estado «dá a sensação de que está a resolver os problemas, quando está a empurrar com a barriga para a frente». Bettencourt Picanço até reconhece que há um «lado positivo», relacionado com a aprendizagem, para o estagiário, mas denuncia: «Estão a ser mascaradas as necessidades de pessoal à custa das fragilidades das pessoas e do emprego. É o Estado a dar um mau exemplo», remata.

Francisco Madelino, presidente do IEFP, sai em defesa dos estágios profissionais. «De entre os programas de emprego, é aquele que tem mais eficácia, com uma taxa de empregabilidade perto dos 80%», elucida. Ainda que reconheça que pode haver abusos.

Trabalhos temporários
Em face deste panorama, as empresas de trabalho temporário absorvem cada vez mais pessoas, muitas delas com formação superior. Rui Bales Vieira, 34 anos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual, diz que muitos dos contratos que fazem são ilegais: «São postos fixos para os quais as pessoas são recrutadas com vínculos temporários, a fim de poderem ser facilmente despedidas, sem reivindicarem condições.» Entre as 60 mil pessoas contratadas por estas empresas, elucida, «estão cada vez mais licenciados e até mestres». O sociólogo Elísio Estanque alerta para o «factor de retrocesso em termos de incentivos às novas gerações» que pode constituir o facto de as empresas porem «jovens a exercer tarefas para as quais estão sobrequalificados».

Inês (nome fictício) tem medo de chegar a essa fase: «Nessa altura, o meu psicólogo vai ter de trabalhar ainda mais.» Por enquanto, com 30 anos, paga para estagiar, num conceituado gabinete de decoração de interiores, onde trabalha. Licenciada com 19 valores em Arquitectura de Interiores, com uma pós-graduação em Reabilitação, Remodelação e Restauro em Arquitectura, viu-se, em Novembro passado, sem emprego, depois de vários anos a trabalhar como freelancer. Entre estar em casa e estagiar gratuitamente num reputado ateliê, preferiu a segunda hipótese: «Sempre enriquece o meu currículo.» Entra às 9 e 30, sai depois das oito da noite e é repreendida se pede para sair mais cedo. Entretanto, vive «do mealheiro» e vai tentando calar a revolta com um pensamento positivo. Vive sozinha, numa casa do pai, o carro está parado: foi trocado pelo metro. O sarcasmo, esse, parece uma marca de geração: «Vivo numa casa de classe média alta, mas sou mais pobre do que a porteira.»

10 comments:

Anonymous said...

Até me apetecia comentar, mas entre tanta coisa que me veio à cabeça durante a leitura, a revolta pessoal que tenho com este tema, e as camuflagens que fazem com coisas tipo "dados do IEFP"... não me apetece. Só acho que em vez de analisarem os nºs pelo nº de inscritos nos centros de emprego, deviam era analisar os nºs dos que não se inscrevem, porquê, etc... enfim, deixa cá suspirar e esperar que os 8 meses de que falam ali sejam só para quem se põe nas mãos dos C.E.'s...

Boo said...

A unica coisa que tenho a dizer e que realmente faz me pensar e se quero/posso mesmo voltar para a minha terra...
Ja comentei com alguns amigos, e peco desculpa aqueles que possa ofender, mas estando de fora consigo ver que Portugal e muito mais corrupto que aquilo que imaginamos e o pior e que todos nos nos queixamos, mas a realidade e que ninguem faz nada e ninguem reclama!Me included....

Renato said...

não é nada de novo esta reportagem.o termo "geravao mil euros" -500 para nós "tugas", é das designações mais certeiras dos últimos tempos, e até é uma criação espanhola, pelo que o problema não é exclusivo de Portugal. no entanto destaco duas coisas, uma é q o César das Neves tem alguma razão (medo, eu a dar razão ao cesar das neves!)qd diz q muitos cursos formam gente para o desemprego.Há tanto mas tantos curso-só engenharias é um batalhao- que pouca ou nenhuma saída profissional tem.é a realidade e os alunos ao entrarem tem q ter consciência disso.
outra coisa interessante tem a ver com o mentor do Ferve. Vi-o ha dias na tv e ele tem o mesmo curso q eu (com social)e fiquei mt supreso qd ele me diz que saiu da universidade e apanhou um choque qd percebeu as dificuldades que o mercado apresenta nesta área.Mas em que mundo andou o rapaz?
ps-isto não invalida que acho que está coberto de razão naquilo que está a fazer!

Simãozinho, o Bife said...

Talvez por isso se assista a uma vaga de emigração de jovens com canudo como até agora penso nunca ter existido em Portugal (posso estar errado...). Mas a realidade é que existe um sem nº de cursos que formam pessoas para o desemprego, ou carreiras no estrangeiro. Enfim, ainda vamos ter mais do mesmo durante alguns largos anos.

nes said...

hoje em dia o curso ter saídas ou não é irrelevante.

conheço uma pessoa com um curso supostamente com saídas, foi o 1º a abrir no ensino público em portugal, saiu na 1ª fornada de alunos do referido curso, teve sempre boas notas durante todo o percurso escolar/académico (tipo médias de 18), boa cultura geral, empenho, experiência de 2 anos na área e está desempregada! hehehe

aliás o problema nem sequer está em arranjar emprego! empregos há aos pontapés, pra call centers, promoções, back-offices de tudo qto é coisa... o problema é mesmo o €€€ que a pessoa praticamente paga para ir trabalhar, ao invés de ter "lucro" :|

Lua said...

Olha, nem sei por onde começar e à tanto para dizer que deixa lá resumir:

1. Trabalho há muitos, empregos é que há poucos
2. Há cursos a mais. Portugal não tem a infrastrutura para lidar com tanta gente que é cuspida do ensino superior. Desconfio que se se acabassem com os empregos do estado para a vida, a situação estaria um pouco melhor
3. Em PT estamos todos em cidades grandes, que não são assim tantas. Ou se começam a restruturar outras áreas e se dão incentivos aos jovens para iniciarem projectos ou ... não há mesmo emprego para todos.

Enfim, podia aqui escrever um livro :(

Eu não volto, mas é porque aqui dão valor ao que faço. Ou pelo menos, dão MAIS valor ao que faço.

Joana Saramago said...

eu só li metade do artigo e não vou ler o resto ou fico deprimida.
Prefiro estar aqui em Londres a trabalhar de Admin e ganhar um salário digno do que estar em portugal a bater com a cabeça nas paredes como estive durante sei lá quanto tempo.
Aos licenciados todos que não arranjam emprego em portugal a minha mensagem é:
EMIGREM TODOS. Há países que dão mais valor aos nossos impostos do que Portugal.

Agora a sério.
A gente (tugas uk) devia iniciar o Movimento do Emigrante.
Convencer a malta nova que é preciso bazar.
Os portugueses nos anos 60 foram para os bairros de lata de Paris porque não tinham estudos porque perceberam que em Portugal não se safavam. Batalharam para dar estudos aos que hoje não arranjam trabalho porque estudaram muito.
Portugal tem milhares de licenciados que fariam avançar a economia de qq país que lhes desse valor.
Se emigrassem em massa agora, já não seria para fazer limpezas ou trabalhar nas obras. Seria para ter trabalhos minimamente satisfatórios intelectualmente.

O grande problema é que os Portugueses que são bons no desenrascanço, são péssimos no que toca a mexerem-se. Então deixam-se ficar todos na terrinha à espera que apareça um emprego de 300 euros por mês.

Tenho amigos arquitectos a ganhar menos que a mulher-a-dias dos pais...
Não faz sentido.
Não faz.

Adoro o sol de portugal, a comida, os meus amigos, a minha família que está lá toda. De vez em quando penso em voltar sóo porque lá estaria muito mais confortável, saudavel, etc.
E depois penso "e ia trabalhar para um call center?? Nem morta."

nes said...

jojo... ao ler o teu post, só penso "quem me dera". de facto penso como tu, que deviamos todos sair daqui...

o problema, e falando por mim, é que não é assim tão simples quanto temos condicionantes familiares e económicas... não vou explicar a minha situação, mas se pudesse, já estava em londres aos séculos. pensava nisso desde que acabei a 4ª classe lol... mas agora não dá, e sofro um bocado com isso. quantas são as vezes que me perco no gumtree a ver casas lol. o ridículo a que isto chegou :)

mas talvez num futuro não tão próximo a coisa se componha e dê para dar o salto.

Xuxi said...

Fica-se realmente sem saber o que dizer...Escravatura Legal, apoiada pelos privados, silenciada pelo Estado, yuma vergonha. Dou por mim com 31 anos a ter conversas rematadas por tiradas dessas típicas de velhos "isto está cada vez pior...". Portugal suga-nos a esperança que devemos ter no futuro, enquanto jovens. Actualmente ou se vive em casa dos pais, ou quem sai em definitivo, tem de pegar em qualquer coisa para sobreviver e quem tem um shitty job e mesmo por mais mal pago que seja, tem de se aguentar...já é uma benção ter um emprego estável. Por enquanto continuo cá, mas sei que a única solução é ir embora deste país. Mas revolta. caraças, é uma vida miserável, um gajo fica velho de fazer tantas contas à vida...

Atom said...

Infelizmente estou incluída nesse "saco". Terminei o curso de ciências da comunicação com especialização em audiovisual, tenho mais um curso profissional em realização e produção cinematográfica e depois de tantos anos de estudo tudo o que encontro são estágios de seis meses não remunerados sem perspectivas de ficar na empresa, assistentes de produção a ganhar o ordenado mínimo a recibos verdes e a ter que usar viatura própria nas funções, entre outros deste género... Da minha turma, as duas únicas pessoas a trabalhar na área conseguiram-no através de cunhas e ainda assim não se livram dos recibos verdes. De turmas anteriores conheço apenas uma pessoa a trabalhar na área. Trabalha com a mesma empresa ha ja dois anos e continua a recibos verdes sem perspectivas de mudança. É este o panorama nas areas de audiovisual/comunicação neste país. Agora compreendo que em Portugal não nos podemos dar ao luxo de tirar o curso que gostamos, mas sim o curso que dá emprego ou onde tenhamos "contactos". Já considerei a hipótese de, caso ficasse em Portugal, ir tirar outro curso, com mais oferta de emprego. Não posso dizer que vá sair de Portugal por causa desta situação, vou embora porque quero uma nova experiência fora do país, mas a oportunidade de lá fora poder vir a trabalhar na minha área, ao passo que aqui tenho que me contentar com call centers e coisas do género, também é bastante motivante. Enfim, a verdade é que tudo isto é bastante frustrante para qualquer licenciado nesta posição. Ficamos com a sensação que tirámos um curso da treta e que não valeu de nada, quando na verdade o problema não está no curso que tirámos mas sim nas oportunidades da treta que o nosso país nos dá.